O futebol brasileiro sofreu uma chacoalhada na Copa de 2014, ou melhor, sete chacoalhadas. Desde então, Seleção brasileira e clubes passaram a dar mais atenção aos padrões táticos, o que sem a manutenção de trabalhos é inviável.
Após o 7×1, uma das principais mudanças foi a maior preocupação com a tática, acima do improviso. O que não mudou foi a excessiva troca de técnicos, o que inviabiliza qualquer esquema de jogo.
Muitos times despontaram com um esquema mais defensivo e feio de se assistir. Talvez porque o treino e a formação das linhas defensivas seja menos difícil do que a criação de jogadas ofensivas. Talvez porque a pressão em cima dos técnicos faça com que prefiram empatar ou ganhar de 1×0 do que arriscar e sofrer uma derrota acachapante.
Os corajosos ou desavisados Jorge Jesus e Sampaoli buscaram o futebol ofensivo, mas já chegaram com crédito suficiente para arriscar. Renato Gaúcho é um exemplo de que com tempo suficiente, é possível apresentar um futebol mais criativo.
Por outro lado, não foi possível nem avaliar o trabalho de Thiago Nunes no Corinthians, porque não teve trabalho, ele foi demitido antes.
Fernando Diniz apanha toda quarta e domingo. Tudo o que dá errado é culpa do extravagante esquema de jogo dele. É uma agressão injusta a quem procura fazer algo diferente. Mérito da diretoria são-paulina que o segurou nos piores momentos e hoje é líder do campeonato brasileiro, podendo ser campeão.

O que muitas vezes atrapalha a gestão do futebol é usar a exceção para criar uma regra. Jorge Jesus arrumou o Flamengo chegando com a temporada em andamento e deu certo, portanto trocar o técnico durante o campeonato por um estrangeiro seria sinônimo de sucesso. O que não é necessariamente verdade.
Clubes que trocaram de técnico na temporada.

Entre as dezoito equipes que tiveram treinadores novos em 2020, quais brigam por algo melhor no Brasileirão depois da mudança?
Corinthians que hoje disputa uma vaga na Libertadores e RB Bragantino que está mais próximo de uma vaga na Sul-americana do que na segunda divisão.
O resto continua na mesma. Goiás, por exemplo, continua brigando para não cair. Internacional e Flamengo continuam disputando o título, todos embolados.
Uma ressalva: Ceará e Atlético MG trocaram de técnico na temporada, mas Guto Ferreira está desde março/20 no Vozão e Sampaoli desde fevereiro/20 no Galo. Não é coincidência, ambas as equipes fazem boas temporadas.
Exemplo de manutenção da comissão técnica.
Um dos melhores, se não o melhor campeonato do mundo é o Inglês. O atual campeão da Premier League, Liverpool, é treinado pelo carismático e competentíssimo Jürgen Klopp. Poderíamos analisar a carreira toda dele, já que ele só dirigiu três equipes até hoje: Mainz 05 (2001 – 08), Dortmund (2008 – 15) e Liverpool desde outubro de 2015, mas vamos nos atentar somente quanto ao atual trabalho.

O Liverpool, time super tradicional, estava sem títulos há algum tempo. Klopp chegou ao time com algum prestígio pelo bom desempenho do Dortmund, mas ainda não tinha toda a confiança e crédito de hoje.
Vejamos a trajetória do Klopp no time inglês até hoje, considerado um dos melhores técnicos do mundo:

Qual clube de ponta no Brasil manteria o técnico com os resultados similares aos do Klopp? Arrisco dizer que nenhum. Consequentemente, nenhum clube colheria os resultados que o Liverpool vem conquistando hoje.
Enfim, o objetivo aqui não é comparar o futebol brasileiro com o europeu, temos características, tradições, dirigentes e torcedores diferentes, mas nosso futebol precisa parar de ficar sentado em cima dos cinco títulos mundiais conquistados e se modernizar.
Necessária a modernização de gestão.
Não é proibido demitir técnico, mas está provado, estatisticamente, que não é a solução. Os dirigentes precisam escolher os técnicos para suas equipes com mais critério e avaliar se os jogadores do seu time combinam com aquele esquema tático. E uma vez contratado, é necessário dar tempo ao novo treinador, é inadmissível a pressão de conselheiros amadores no futebol profissional, ainda mais após dez ou quinze jogos.
Mudar de filosofia a cada mês é prejudicial aos interesses do clube, dos atletas (que não se desenvolvem como deveriam) e do treinador. A consequência disso é a baixa qualidade técnica dos jogos, jogadores taticamente limitados e os reflexos na Seleção brasileira. Não à toa, não temos jogadores protagonistas na Europa, exceto Neymar.
Meu sonho é acompanhar um Brasileirão no qual a maioria dos times tem o mesmo técnico há pelo menos dois anos!! Aí sim poderíamos analisar a qualidade técnica real dos times, esquemas táticos, etc.